Distração ao fazer registros em áreas rochosas ou lugares elevados pode ocasionar graves acidentes, inclusive fatais, alerta TRAUMA
No dia 11 de agosto, uma mulher caiu de um desfiladeiro de 18 metros em Borne Ghat, na Índia, enquanto fazia uma selfie diante da cachoeira de Thoseghar. O acidente aconteceu depois que ela voltava de uma trilha com um grupo de amigos. Nasreen Amir Kureshi, de 29 anos, foi resgatada e sobreviveu à queda. Em outro caso, no dia 5 deste mês, uma turista bateu a cabeça em um poste quando tentava gravar um vídeo para o Tik Tok pendurada para fora de um trem em movimento na Tailândia. Apesar da força da batida, ela sofreu apenas lesões leves e exames não detectaram ferimentos internos graves.
Casos similares vêm sendo registrados com frequência. Em junho, uma mulher morreu no México ao tentar fazer uma selfie de uma Maria Fumaça que se aproximava de sua cidade. Ao chegar muito perto do veículo, ela foi atingida na cabeça por uma das estruturas laterais do trem.
No Brasil, no mesmo mês, uma ciclista também foi atingida na cabeça ao tentar fazer uma selfie com um trem em Uberaba. No dia 12 de fevereiro, um jovem de 16 anos morreu após cair de um viaduto sobre a Rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP). No atendimento à ocorrência, a Polícia Militar Rodoviária apurou que o rapaz teria pulado a grade para fazer uma selfie com um grupo de amigos.
A busca por “likes” nas redes sociais se tornou uma sensação global na última década e, quanto maior a criatividade para compor a foto, maior o engajamento. Porém, quando o cenário é um local de risco, o ato inofensivo pode se transformar em um grande problema, ou em uma tragédia, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico, Marcelo Tadeu Caiero.
“Quando uma queda de altura não é fatal, pode resultar em série de lesões, o chamado politraumatismo, que é quando pelo menos duas partes do corpo se lesionam gravemente. A energia desprendida no momento da lesão está diretamente relacionada com a gravidade das lesões. Então, quanto maior a velocidade que o corpo se desloca no momento do trauma, mais sérias as lesões serão”, explica o especialista.
Os politraumatismos podem incluir múltiplas fraturas ósseas, lesões na coluna, hemorragias, perda de membros (amputações), além de lesões cerebrais. “As consequências podem ser graves e afetar de forma importante a qualidade de vida da pessoa, pois as sequelas, com lesões permanentes, são muito comuns”, pontua Caiero.
Um estudo da Fundação iO, especializada em Medicina Tropical e do Viajante, revelou que cerca de 379 pessoas morreram entre janeiro de 2008 e julho de 2021 ao tentarem tirar a “selfie perfeita”. Apenas nos primeiros sete meses do último ano analisado (2021), foram registradas 31 mortes, o equivalente a, em média, um óbito por semana.
Os tipos mais comuns de mortes envolvendo selfies foram decorrentes de quedas de lugares como cataratas, precipícios e telhados, que contabilizaram 216 dos 379 casos.
Os casos, que não vêm sendo incomuns, fez com que pesquisadores da Austrália analisassem artigos científicos e reportagens da mídia sobre ferimentos e mortes causadas por selfies em todo o mundo. Ao concluírem, frisaram que o ato deveria ser considerado um “problema de saúde pública”.
“Não se coloque em situações de perigo ficando próximo à penhascos, sentado em muretas ou perto de pedras onde um escorregamento pode fazer a pessoa cair no mar ou em uma cachoeira”, fala Caiero. “Nunca menospreze o ambiente ao seu redor. Muitas vezes, a pessoa se orienta pela tela do celular e não se atenta ao entorno, onde está pisando, próximo a que ela está, se há risco de cair, se afogar, então, veja onde está pisando, o que tem ao redor para, em segurança, fazer a foto. Não arrisque a vida por likes”, enfatiza.
Locais mais perigosos
Em 2021, a revista Journal of Travel Medicine apontou que a Praia da Penha, em Santa Catarina, está entre os 10 lugares com mais mortes em tentativas de selfies no mundo. Foi lá, inclusive, que uma mulher de 28 anos morreu ao cair do costão da Ponta do Vigia, quando fazia uma foto, em 2021.
Outros lugares considerados perigosos, de acordo com a publicação, são as cataratas do Niágara (na fronteira entre os EUA e Canadá); o Glen Canyon (EUA); o Charco del Burro (Colômbia); a catarata de Mlango (Quênia); os montes Urais (Rússia); o Taj Mahal e o vale de Doodhpathri (ambos na Índia); a ilha Nusa Lembongan (Indonésia) e o arquipélago de Langkawi (Malásia).
À época, o Brasil ocupava o quinto lugar da lista, com 17 casos de morte por selfies e os países que mais registravam mortes eram Índia (100 casos), Estados Unidos (39) e Rússia (33).
Atenção máxima também ao caminhar
Tirar uma selfie em cenários arriscados não é o único risco de acidentes envolvendo o uso de celular. Ao caminhar pela rua, digitando ou olhando mensagens, situações sérias podem acontecer, como a registrada na cidade de Januária, em Minas Gerais, no dia 18 de fevereiro. Um homem de 33 anos caiu em um bueiro de 2,5 metros de profundidade. Durante o resgaste, a vítima contou aos socorristas que estava focado na tela do aparelho e não percebeu que o bueiro estava aberto.
“Evite andar na rua com fone de ouvido, que aumenta a distração, e não caminhe e use o celular ao mesmo tempo. Atente-se ao trajeto, nos obstáculos e demais riscos que pode haver no caminho, conclui o presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico.
Crédito da foto: Divulgação/Freepik
Selfies em um cenário de risco, podem ir de um ato inofensivo a um grande problema, ou terminar em morte
Sobre a Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (TRAUMA)
A Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (ABTO), fundada em 25 de setembro de 1997, é uma associação científica de âmbito nacional sem fins lucrativos, constituída por médicos interessados nos estudos das afecções ortopédico-traumáticas do sistema locomotor.
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